Servir e Proteger
Lembro exatamente a primeira vez em que fiz uma reportagem na área policial. Eram os anos
1990, eu uma foca, uma iniciante no jargão profissional, em um plantão de sábado de Zero
Hora. A notícia que eu buscava era a de um homicídio na zona norte de Porto Alegre. A vítima
era uma mulher de meia idade, sacerdotisa afro, que havia sido alvejada com vários tiros.
Entrei na cena, recebi as informações, olhei o corpo e parti com aquela sensação que as
primeiras vezes proporcionam: para além de todo o horror, o ‘encantamento’ do trabalho. Nos
anos seguintes, o jornalismo me proporcionou muitas vezes esse mesmo sentimento em outras
áreas e temas. Foi um ofício lindo de fazer e viver. Mas o destino soprou seus ventos e, anos
mais tarde, eu estava novamente rodeada de policiais.
Foi essa convivência diária, suas histórias e seus incentivos que me conduziram a um novo
caminho: a polícia civil do RS. O que deu em ti?, perguntaram alguns. Eu respondo todos os
dias. Sou profissional da segurança pública porque e principalmente persisto na crença de um
mundo melhor para todos. É esta a fé que me move. Acredito em mim, nos colegas dedicados
com quem convivo, no trabalho honesto, no servidor público que arrisca a própria vida por
alguém que sequer conhece. Que abdica do sono, da família, que ouve histórias doloridas
todos os dias e luta pela verdade dos fatos.
Li esses tempos em uma rede social de uma colega e achei essa frase emblemática desse
pequeno frame da história de minha vida: “Há dois dias importantes na vida de um homem: o
dia em que ele nasce e o dia em que ele descobre o porquê.” Sem ilusões narcísicas, com
paixão consciente do desafio diário, das limitações, dos perigos, hoje eu posso dizer: felizes
aqueles que se redescobrem fazendo o que amam. E que acordam todos os dias com a
motivação de servir e proteger. Que sejamos valorizados e respeitados.
Por Isabela Mendes Soares