Respeito, uma palavra de ordem
Meu ofício durante mais de vinte anos de trabalho na Polícia Civil, como Delegado, foi de envolvimento direto e diário com a violência, a criminalidade, o submundo da contravenção. Muitos foram os boletins de ocorrência, inquéritos, investigações, mandados de segurança, encaminhamentos aos presídios, buscas e apreensões. Em meio a tudo isto sempre busquei manter o respeito, tendo por princípio que, mesmo que tratando com um fora da lei, mesmo que devedor, mesmo que a margem, eu devia fazer diferente. O marginal era ele, eu o delegado de polícia.
O diálogo, a busca pela retomada da razão, o interrogatório reflexivo, a citação das referências familiares são atitudes que buscam sensibilizar, tocar, mostrar que tem o que perder sim. Por mais delinquente que seja, ninguém quer fazer afetos sofrerem. Delinquentes tem sentimento? Tem afeto? Tem sim, numa outra escala de valores. Aí que precisamos discutir: Que valores nossa sociedade está cultuando? A superficialidade e o imediatismo estão tornando afetos artigos supérfluos, voláteis, efêmeros, transitórios. O ter está mais valioso que o ser. A busca pelo dinheiro fácil e rápido tem o mesmo imediatismo que pedir alteração da idade penal. Não resolve. Não educa.
A falta de investimento na educação, na reinserção dos apenados, no cumprimento das leis e das medidas socioeducativas está deixando nossa rotina insegura. As pessoas estão alterando rotina, mudando hábitos, tratando traumas psicológicos, deixando de fazer algo por causa da violência no entorno, cada vez mais próximo e em grande número. Não tem mais hora, local ou dia. Os índices aumentando vertiginosamente. A audácia também. A violência que deveria estar trancafiada nas casas de detenção, não estão. Estão nas ruas. Estão cada vez mais perto de nós.
Precisamos construir espaços de educação. Espaços que respeitem o saber e a experiência de cada um, que possibilite enxergar que outra vida é possível, que tem espaço nesta sociedade para diferentes jeitos e formas de ser, desde que respeitados os limites de civilidade, respeito e harmonia entre os seres.
Respeitar os seres, os direitos, as leis, as medidas, as regras, os combinados, as escalas, os espaços, as diferentes formas de organização e funcionamento dos grupos, enfim, nossa sociedade está precisando de mais respeito.
Porto Alegre, 05/06/2015