Olhar Negro
Pauto minhas reflexões nos temas sobre educação, segurança, violência urbana. Entendo que uma coisa leva a outra, ou seja, sem educação, índice de segurança diminui e o de violência aumenta, porém hoje vou falar disto sob a ótica de um negro. Não temos somente os índices de violência multiplicados por três em função da cor da pele, temos direitos negados, ausência de políticas públicas e uma cultura de perseguição e marginalização que nos coloca como inferiores. Assistimos ao genocídio do povo negro, a perseguição às religiões de matriz africana, a falta de saneamento nas periferias para onde nos empurraram e, ainda temos que conviver com a negativa de racismo, com a contrariedade às ações afirmativas implementadas.
A falta de investimento em educação é um problema para a sociedade, mas para os negros o acesso é ainda mais difícil. Aqui no Sul, somente 10% dos matriculados nos cursos de graduação são negros, mesmo tendo triplicado o número depois do sistema de cotas ter sido implementado e o ProUni ser instituído. A boa notícia é que aumentou bastante o ingresso de negros em cursos como medicina, arquitetura e administração – que tradicionalmente formavam brancos.
A cor da pele dos jovens está diretamente relacionada ao risco de exposição à violência. Os jovens negros são as principais vítimas, os mais vulneráveis. Precisamos políticas de Segurança Pública sólidas voltadas aos jovens, principalmente os negros, que associem policiamento, prevenção e políticas sociais. O jovem é mais vítima do que agressor. Precisa de oportunidade, de visibilidade das suas potencialidades.
Reconheço que minhas cotas tiveram outros nomes, mas cumpriram o papel destas de hoje. Superei preconceito e racismo por que isto não me paralisou, não me intimidou, não me imobilizou. Comemoro minhas conquistas e minha árdua caminhada. É muito difícil almejar um lugar, uma posição quando nunca se viu um negro nela, mas é possível. Quero que se torne natural, corriqueiro, que os lugares sejam ocupados pela competência e capacidade, que as oportunidades sejam iguais para todos, que as diferenças sejam para somar e não dividir ou diminuir.
O olhar dos negros busca na história de luta, força para fazer um futuro com mais respeito e dignidade para a raça humana.